quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Casados para amar

Depois de vinte e oito anos de casado descobri que a maioria dos casais tratam-se como os pais tratam os filhos - querem criar o cônjuge como se fosse filho. Não é sem razão que quase sempre brigamos porque o outro não age como queremos. Mas não casamos para mudar o outro ou para fazer o que os pais não fizeram. Ninguém muda ninguém nem deve tentar fazer isso. Casamos para amar a pessoa com quem casamos e não para moldá-la ao nosso modo. Compreender isso faz diferença.

Quando casamos trazemos toda uma herança familiar que nos acompanhará por toda a vida. É por isso que aconselho aos namorados e noivos a conhecerem o histórico familiar de seus futuros cônjuges. Somos o que recebemos de nossos pais, e isso se manifesta no casamento com todas as implicações. Quando casamos trazemos tradições, hábitos, costumes, vícios, virtudes e princípios. É isso que somos e isso será vivido no casamento sem que o cônjuge possa alterar.

É bem verdade que somos mutáveis e estamos sempre aprendendo. É claro que nosso comportamento pode ser alterado para melhor ou pior ao longo da vida. O cônjuge pode contribuir consideravelmente para o nosso bem comportamental. Mas isso deve ser fruto da vivência comum a dois e não resultado de imposições, chantagens ou ordens de cima para baixo como um caudilho tratando seus subalternos. O livro bíblico de Cântico dos Cânticos ilustra isso muito bem. O poema conjugal que permeia esse livro mostra um casal que vive para amar um ao outro. Tal proceder gera na pessoa amada auto-estima, confiança, disposição, produtividade, amabilidade, romantismo e tudo de bom. Quando um casal vive assim, mudanças naturais, benéficas e reais acontecem na vida do outro.

A expressão “cara-metade” com o sentido de que sou incompleto ou imperfeito até que encontre minha outra metade, não me parece ser excelente. Cada pessoa tem a sua completude. Não preciso de outra pessoa para me completar e ninguém precisa de mim para ser completa. Somos o que somos. Talvez isso seja confundido com a necessidade inerente que temos de nos relacionar. Isso já é outra coisa.

Como tenho aprendido e experimentado os efeitos claros dessa ideia, sugiro que os casais ponderem sobre isso. Não casamos para mudar o outro ou para criar o cônjuge. Casamos para amar a pessoa com quem casamos exatamente como ela é e não como eu gostaria que ela fosse. É bom lembrar que Deus nos ama exatamente como somos e não como poderíamos ser. Assim devemos ser com nosso cônjuge. Livre-se de carregar o cônjuge nas costas. Liberte-se e deixe a pessoa amada livre para que ela seja o que realmente é.

Dizem que os opostos se atraem. Atraímos-nos pelas diferenças do outro e depois que casamos queremos que ela se torne como nós. Isso é um contra-senso, mas é exatamente o que acontece com a maioria dos casais. Daí os atritos constantes e as separações cada vez mais comuns.

A Bíblia diz: “Quem és tu que julgas o servo alheio? Para o seu próprio senhor está em pé ou cai; mas estará em pé, porque o Senhor é poderoso para o suster” (Rm 14.4). “Portanto, acolhei-vos uns aos outros, como também Cristo nos acolheu para a glória de Deus” (Rm 15.7). “Não tenha cada um em vista o que é propriamente seu, senão também cada qual o que é dos outros” (Fp 2.4). Seja qual for a realidade de seu casamento, investir em amar o outro como ele é sem querer mudar a pessoa, é uma maneira madura de viver bem no casamento.

Antonio Francisco.

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