terça-feira, 29 de julho de 2014

Como fazer para reconstruir minha família de volta

Recebi um e-mail de uma senhora que encontrou nosso blog, gostou de seu conteúdo e até imprimiu algumas coisas dele. Ela está passando por um processo de separação e quer saber: “Como fazer para reconstruir minha família de volta”. É difícil dizer alguma coisa específica para ela sem conhecer detalhes da situação. Mas, aproveito para dizer algo que possa ajudá-la de alguma maneira e a tantos que vivem dias difíceis no ambiente familiar.

Defender a família é defender o óbvio. Todos nós procedemos da família, nos constituímos em família e vivemos em família. Mesmo aquelas pessoas que se encontram em situação degradante e que vivem na rua da amargura, na desilusão, sozinhas, sem esperança e sem Deus no mundo; mesmo essas pessoas tiveram um pai e uma mãe. A família é chave, é base para todos e deve ser amada, cuidada e defendida sempre.

Quando duas pessoas se relacionam, se amam e decidem casar, fazem isso livremente como expressão de amor, compromisso e com a intenção de viverem juntas até que a morte os separe. Esse é o ideal e quase sempre é o desejo inicial de todo casal, ainda que não se possa negar aqueles casos onde casamentos acontecem com segundas intenções e que logo acabam porque nunca começaram de verdade. E, se não acabam com a separação, vegetam debaixo de um teto apenas por conveniência para manter uma aliança “diante de Deus”, para não fazerem feio para a família, para não perderem o convívio com os filhos, e em muitos casos para poderem continuar dentro dos padrões da igreja.

Infelizmente muitos casamentos são mantidos apenas na aparência, porque na verdade nunca existiram de fato. Falando de casamento Jesus disse: “o que Deus ajuntou não o separe o homem”. O que ele quis dizer com isso? Deus ajunta todos os casais pelo casamento ou nem todo casamento é unido por Deus? Eu sou de opinião que, sem amor, nenhuma cerimônia conjugal casa ninguém e que o registro conjugal num cartório não passa de um acordo legal e não de um casamento, isso quando o casal não se casa por amor de livre consciência. Casamentos arranjados, interesseiros e convenientes não são casamentos, mas apenas o que são pelos motivos que os fizeram acontecer.

Casamento é para pessoas adultas, conscientes, responsáveis, livres e que sabem o que estão fazendo quando casam. A Bíblia diz: “Por isso, deixa o homem pai e mãe e se une à sua mulher, tornando-se os dois uma só carne”. Casamento implica em deixar a casa dos pais. Muitos casamentos não dão certo porque o marido ou a esposa não conseguem deixar a casa dos pais. Até mudam de casa, mas não conseguem deixar de depender de onde saíram. A dependência pode ser emocional, financeira e até de gestão administrativa. Quando alguém casa continua filho e filha e deve honrar pai e mãe, porém, não pode ficar na dependência afetiva dos pais ao ponto de prejudicar a relação conjugal. O ditado popular diz: “Quem casa quer casa”. Então, o casal novo deve ser capaz de se manter financeiramente e capaz de tomar suas próprias decisões sem a interferência dos pais. Isso não impede um conselho voluntário dos pais ou solicitado pelos filhos, mas nada de interferências intrusas, abusivas, ou dependência doentia dos filhos.

Deixar pai e mãe leva ao segundo passo que é unir-se ao cônjuge. Essa conjugalidade aplica-se a tudo, é uma união integral, física, emocional, espiritual, financeira e tudo o mais que envolva a relação de um casal. Isso não anula a individualidade, a liberdade de pensar, opinar, decidir, escolher, mas sempre levando o outro em consideração. O texto bíblico citado acima ainda diz que os dois se tornam numa só carne. A união de um casal acontece também na junção sexual, na parceria nua e crua de um erotismo sem falsos pudores, sem limites pra sonhar e fazer acontecer. Muitos casamentos emperram aqui porque os cônjuges não entendem ou não aceitam esse mútuo pertencimento. O marido deve dar à esposa tudo o que lhe é devido sexualmente, também, de igual modo, a esposa ao seu marido. O corpo da mulher é para o seu marido e o corpo do marido é para sua mulher. Nenhum deve negar nada ao outro, mas apenas o que for de mútuo consentimento. A restauração de um casamento pode estar na restauração da vida sexual do casal.

Ninguém casa com estranhos, o que significa dizer que ambos precisam conhecer o histórico familiar um do outro. Isso é importante para a compreensão do porque cada um é como é. Esse conhecimento da herança familiar faz diferença nas crises conjugais no sentido de entender, perdoar, aceitar, ceder, tolerar ou procurar ajuda específica. Casamento não só requer compreensão sobre o outro como o outro é, mas também implica abrir mão de opiniões, desejos e interesses. Casamento não é lugar para medir forças com o cônjuge, porque no casamento os dois jogam no mesmo time, de modo que quando um ganha o outro ganha e quando um perde o outro também perde.

Quando o casamento não vai bem é muito fácil culpar o outro, mas não se reconstrói um casamento culpando a pessoa que dizemos amar e com a qual queremos viver até o fim da vida. Cada um deve se enxergar, fazer sua parte, conversar bastante, analisar todas as situações, pesar o que é positivo e negativo na relação e juntos se empenharem para o bem comum da vida familiar. O marido deve dar tempo para sua esposa, apoiá-la em seus afazeres, ser carinhoso, amoroso, respeitoso e paciente com ela. Semelhantemente a esposa deve respeitar seu marido, agradá-lo e apoiá-lo no que ele faz. Isso tudo parece estranho em nossos dias porque muitos casais vivem competindo entre si, mas não é desse modo que se constrói uma família.

Quando existem filhos a responsabilidade aumenta. Toda possibilidade de separação deve ser muito bem pensada porque os filhos sofrerão com isso. Por outro lado, nenhum casamento deve ser mantido apenas por causa dos filhos. Se todas as tentativas de continuidade do casamento se esgotarem, o casal deve fazer tudo conforme a lei, nunca priorizando coisas em detrimento das pessoas, considerarem com calma e bom senso a situação dos filhos e tocarem a vida para frente.

O casamento é importante na vida de qualquer pessoa, mas ele não é tudo. A vida continua e pode continuar melhor, principalmente quando o casamento é tão mau que justifique uma separação. Faça de tudo para restaurar seu casamento, mas não ao ponto de destruir-se por isso ou de achar que sem a permanência desse casamento tudo o mais perde a razão de ser. Não, você pode recomeçar sem casamento ou em outro casamento. Somente você pode decidir o que fazer. Peça a bênção de Deus sobre o seu casamento e faça o que acha que deve fazer depois de ponderar todas as possibilidades.

Antonio Francisco

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